tens boa dicção?

lê, de preferência em voz alta.

nível fácil
1 – xuxa! a sasha fez xixi no chão da sala.
2 – o rato roeu a roupa do rei de roma, a rainha com raiva resolveu remendar.
3 – três pratos de trigo para três tigres tristes.
4 – o original nunca se desoriginou e nem nunca se desoriginalizará.
5 – qual é o doce que é mais doce que o doce de batata doce? respondi que o doce que é mais doce que o doce de batata doce é o doce que é feito com o doce do doce de batata doce.

nível médio
1 – sabendo o que sei e sabendo o que sabes e o que não sabes e o que não sabemos, ambos saberemos se somos sábios, sabidos ou simplesmente saberemos se somos sabedores.
2 – o tempo perguntou ao tempo qual é o tempo que o tempo tem. o tempo respondeu ao tempo que não tem tempo para dizer ao tempo que o tempo do tempo é o tempo que o tempo tem.
3 – em baixo da pia tem um pinto que pia, quanto mais a pia pinga mais o pinto pia!
4 – a sábia não sabia que o sábio sabia que o sabiá sabia que o sábio não sabia que o sabiá não sabia que a sábia não sabia que o sabiá sabia assobiar.

nível difícil
1 – num ninho de mafagafos, cinco mafagafinhos há! quem for desmafagafizá-los, um bom desmafagafizador será.
2 – o desinquivincavacador das caravelarias desinquivincavacaria as cavidades que deveriam ser desinquivincavacadas.
3 – perlustrando patética petição produzida pela postulante, prevemos possibilidade para pervencê-la porquanto perecem pressupostos primários permissíveis para propugnar pelo presente pleito pois prejulgamos pugna pretárita perfeitíssima.
4 – não confunda ornitorrinco com otorrinolaringologista, ornitorrinco com ornitologista, ornitologista com otorrinolaringologista, porque ornitorrinco, é ornitorrinco, ornitologista, é ornitologista, e otorrinolaringologista é otorrinolaringologista.
5 – disseram que na minha rua tem paralelepípedo feito de paralelogramos. seis paralelogramos tem um paralelepípedo. mil paralelepípedos tem uma paralelepipedovia. uma paralelepipedovia tem mil paralelogramos. então uma paralelepipedovia é uma paralelogramolândia?

nível impossivel
eu tagarelaria
tu tagarelarias
ele tagarelaria
nós tagarelaríamos
vós tagarelaríeis
eles tagarelariam

tragédia matemática

Num certo livro de Matemática, um quociente apaixonou-se por uma incógnita.
Ele, o quociente, produto de notável família de importantíssimos polinómios.
Ela, uma simples incógnita, de mesquinha equação literal. Oh! Que tremenda desigualdade. Mas como todos sabem, o amor não tem limites e vai do mais infinito ao menos infinito.
Apaixonado, o quociente olhou-a do vértice à base, sob todos os ângulos, agudos e obtusos. Era linda, uma figura ímpar e punha-se em evidência: olhar rombóide, boca trapezóide, seios esféricos num corpo cilíndrico de linhas senoidais.
Quem és tu? Perguntou o quociente com olhar radical.
Eu sou a raiz quadrada da soma do quadrado dos catetos, mas podes chamar-me Hipotenusa. Respondeu ela com a expressão algébrica de quem ama.
Ele fez da sua vida uma paralela à dela, até que se encontraram no infinito. E amaram-se ao quadrado da velocidade da luz, traçando ao sabor do momento e da paixão, rectas e curvas nos jardins da quarta dimensão. Ele amava-a e a recíproca era verdadeira. Adoravam-se nas mesmas razões e proporções no intervalo aberto da vida.
Três quadrantes depois, resolveram casar-se. Traçaram planos para o futuro e todos lhes desejaram felicidade integral. Os padrinhos foram o vector e a bissectriz.
Estava tudo nos eixos. O amor crescia em progressão geométrica. Quando ela estava nas suas coordenadas positivas, tiveram um par: ao menino, em honra ao padrinho, chamaram de Versor; à menina, uma linda Abscissa. Ela sofreu duas operações.
Eram felizes até que, um dia, tudo se tornou uma constante. Foi aí que surgiu um outro. Sim, um outro. O máximo divisor comum, um frequentador de círculos viciosos. O mínimo que o máximo ofereceu foi uma grandeza absoluta.
Ela sentiu-se imprópria, mas amava o Máximo. Sabedor desta regra de três, o quociente chamou-lhe fracção ordinária. Sentiu-se um denominador comum, resolveu aplicar a solução trivial: um ponto de descontinuidade na vida deles.
Quando os dois amantes estavam em colóquio amoroso, ele em termos menores e ela de combinação linear, chegou o quociente e num giro determinante, disparou o seu 45.
Ela foi transformada numa simples dízima periódica e foi para o espaço imaginário e ele, foi parar a um intervalo fechado, onde a luz solar se via através de pequenas malhas quadráticas.

10 dúvidas sobre a cerveja

1 – A cerveja mata?
Sim, claro. Sobretudo se a pessoa for atingida por uma caixa de cerveja com garrafas cheias. Anos atrás, ao passar pela rua, um rapaz foi atingido por uma caixa de cerveja que caiu de um camião e teve morte instantânea. Além disso, casos de enfarte do miocárdio em idosos teriam sido associados à propaganda de cervejas com modelos boazudas.

2 – O uso contínuo do álcool pode levar ao uso de drogas mais pesadas?
Não. O álcool é a mais pesada das drogas: uma garrafa de cerveja pesa cerca de 900 gramas.

3 – A cerveja causa dependência psicológica?
Não. 89,7% dos psicólogos e psicanalistas entrevistados preferem whisky.

4 – Mulheres grávidas podem beber sem risco?
Sim. Está provado que nas operações stop a polícia nunca manda fazer o teste de alcoolémia às mulheres em gestação. E se elas tiverem que fazer o teste de andar em linha recta, podem sempre atribuir o desequilíbrio ao peso da barriga.

5 – A cerveja pode diminuir os reflexos dos motoristas?
Não. Vejamos uma experiência foi feita com mais de 500 motoristas: foi dada uma caixa de cerveja para cada um beber e, em seguida, foram colocados um por um diante do espelho. Em nenhum dos casos, os reflexos foram alterados.

6 – A bebida envelhece?
Sim. A bebida envelhece muito rapidamente. Para se ter uma idéia, se deixares uma garrafa ou lata de cerveja aberta ela perderá o seu sabor em aproximadamente quinze minutos.

7 – A cerveja atrapalha o rendimento escolar?
Não, pelo contrário. Alguns donos de escolas estão a aumentar os seus rendimentos com a venda de cerveja nas cantinas e bares da esquina.

8 – O que faz com que a bebida chegue aos adolescentes?
Inúmeras pesquisas têm vindo a ser feitas em laboratórios de renome e todas indicam, em primeiríssimo lugar, o empregado do bar.

9 – A cerveja engorda?
Não. Quem engorda és tu.

10 – A cerveja causa diminuição da memória?
Que eu me lembre, não.

a tosga

Fiquei baralhado, não sei se a minha namorada me disse para beber uma e voltar às onze ou para beber onze e voltar à uma. Quando olhei pró relógio e não vi os ponteiros achei que era altura de regressar a casa.

Levei uns quinze minutos a entrar no carro, mais trinta, menos cinco. O raio da chave não entrava nem à força e havia algo estranho a intrigar-me. Ia jurar que o meu carro era preto, até me conseguia lembrar vagamente de ter escolhido esta cor porque ficava bem num anúncio da T3. Talvez fosse a fraca iluminação da rua que lhe dava um tom esverdeado. Mas devia estar enganado, a minha memória já não é o que era e às vezes prega-me algumas partidas. Um certo dia, no cinema, ia jurar que a fulana sentada três cadeiras à minha esquerda era uma antiga namorada e só descobri o erro quando o marido me mandou verificar se os protestos sobre o mau atendimento nas urgências hospitalares não seriam um tanto exagerados.

Às tantas, não sei por que milagre, o carro emitiu um som, as luzes acenderam-se e um matulão deu-me um encontrão que quase me fez cair do alto dos meus tacões de centímetro e meio. Entrou no carro e abalou. Ora esta, pensei eu cá pra comigo, então este não era o meu carro? E lá dei mais umas voltas ao quarteirão, duas pela direita e uma pela esquerda. E não é que era mesmo preto? Bem que eu tinha razão!

Confesso que tive uma certa dificuldade com a marcha-atrás. Quem é que se ia lembrar que tinha de puxar o joystick pra cima e depois empurrar prá frente?

A meio do caminho fui mandado parar pela BT, mesmo à entrada da cidade. Eu não me sentia lá muito bem… A princípio nem percebi o que é que aqueles gajos vestidos de forma estranha queriam. Mandaram-me sair do carro e quase caí. Tropecei, bati com o queixo no canto da porta e vi um cometa a bater contra Júpiter. Juro! Era todo amarelo-alaranjado!

Mandaram-me soprar no balão. Eu não via balão nenhum, devia ser do escuro da noite. E se estavam à espera que um balão levantasse com o meu sopro não iriam longe. Desde que tivera tuberculose há sete anos atrás que os meus pulmões já não sopravam como antigamente.
Deram-me um tubozinho e disseram-me que aquilo era o balão. São muito estranhos, estes gajos, a chamar balão àquele tubozito. Lá agarrei naquilo. Tinha uma televisãozinha na ponta, não percebi para que seria. Apareciam lá uns números.

De repente um grande estrondo e um grande espalhafato. Um camião carregado de tijolos mandou a casa da esquina abaixo e espalhou os tijolos todos pela estrada.
Os polícias (os tais gajos vestidos de forma estranha eram polícias) correram em direcção ao acontecimento e mandaram-me embora.
Eu lá peguei no carro e fui pra casa todo contente.

No dia seguinte a minha namorada acordou-me e perguntou:
– Olha lá! O que é que faz um carro da Brigada de Trânsito na nossa garagem?!

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faz um upgrade ao teu currículo

Achas que não arranjas emprego porque o teu currículo é muito fraquinho? É muito simples, basta fazeres um upgrade ao nome da tua profissão!
Eis algumas dicas para quando te referires aos teus empregos anteriores:

– Especialista de Fluxos de Distribuição (paquete)
– Supervisora Geral de Bem-Estar, Higiene e Saúde (mulher da limpeza)
– Coordenador de Fluxos de Entradas e Saídas (porteiro)
– Coordenador de Movimentações e Vigilância Nocturna (segurança)
– Distribuidor de Recursos Humanos (motorista de autocarro)
– Especialista em Logística de Combustíveis (empregado da bomba de gasolina)
– Assessor de Engenharia Civil (trolha)
– Consultor Especialista em Logística Alimentar (empregado de mesa)
– Técnico de Limpeza e Saneamento de Vias Públicas (varredor)
– Técnica Conselheira de Assuntos Gerais (cartomante)
– Técnica Especialista em Terapia Masculina (prostituta)
– Técnica Especialista em Terapia Masculina Sénior (prostituta de luxo)
– Especialista em Logística de Produtos Químico-Farmacêuticos (traficante de droga)
– Técnico de Marketing Direccionado (vigarista)
– Coordenador de Fluxos de Artigos (receptor de artigos roubados)
– Técnico Superior de Distribuição de Artigos Pessoais (carteirista)
– Técnico de Redistribuição de Rendimentos (ladrão)
– Técnico Superior Especialista de Assuntos Específicos Não Especializados (político)

a tragédia

Tutum tutum tum tum tum…
Tum tum tum… tutum tutum…

O som – som é uma forma de dizer, aquilo era mais uma espécie de poluição – vinha lá dos lados da rua das portas do santo. Antão, de seu nome, que isto de santos tem muito que se lhe diga. Há um para cada dia e um dia para eles todos. É um fartote! Agora que penso nisto verifico que esta coisa dos santos é um pouco racista. Há uns de primeira e uns de segunda. Alguns, muito poucos, dão até direito a um dia sem trabalho (gosto destes). Outros, coitados, ficam na molhada do dia de todos. O dia da manada!
O barulho estava a entrar no Rossio. E em todas as janelas até ao Chiado o que, às 23:17 de um domingo, não era lá muito agradável. Enfiou-se até pelo carro da polícia adentro, interrompendo o roncar de um e os assobios do outro. Meio assarapantados, tentaram determinar a origem. Tarefa difícil. A noite estava escura, os candeeiros estariam bem num velório e chuva intensa parecia fazer fumo ao bater no asfalto. Quem é que se atrevia a deitar a cabeça de fora? Eu não, mas eu também não sou polícia. Não que tenha algo contra os fardados e boina de pala, somente não poderia agora estar aqui a debitar a minha profunda sabedoria.
TUM TUM TUM … a coisa engrossava… Um berro lá do alto das águas furtadas obrigou à investigação do de nariz à Pinóquio e óculos à Zorro. Um marmita (usando a terminologia do DF, pois que pela do VV seria um marquês e na minha somente um palerma). O camarada, gingando de tronco nu, calções e chinelos, transportava a tolha num ombro, o direito, e um tijolo berrante (também conhecido em alguns locais por rádio), no esquerdo.
Estranho, pensou o polícia. O gajo deve ser maluco.
– Ouça lá, o que é que vossemecê anda aqui a fazer a estas horas com isso em altos berros? Para onde é que o senhor pensa que vai? Vamos lá a desligar isso e a mostrar os seus documentos, se faz favor. Com aquela chuva toda, se faz favor. Era um polícia educado.
– Hã? Hugh… Vou prá praia, não vê a toalha?
– Praia a estas horas e com este tempo? O senhor vai mas é entrar ali pró carrinho e esclarecer tudo na esquadra.
E lá o enfiaram no banco traseiro e zarparam em direcção aos Restauradores. Talvez fosse do frio, talvez da chuva, quiçá de terem sido acordados a meio do ronco, o certo é que não contaram com a habilidade do artista. Deixar-lhe o rádio foi a causa do desastre. Sintonizou uma onda, abriu a janela e saiu a nadar por ela fora. O de azul bem acelerou, mas a onda era forte e o carro avançava aos coices. Era uma daquelas carroças do tempo em que os T-Rex emboscavam os coitados dos brachiosaurus ali prós lados do Martim Moniz. E, azar dos azares, em frente ao cinema São Jorge, pufff! Um furo! Ah Ah! … o gajo vai safar-se!
– Porra, berrou o da esquerda, era só o que me faltava agora! Vá lá atrás tirar o macaco e muda o pneu. Porra (já tinha dito isto), logo tinha de ser eu a estar de serviço hoje. Há dias de manhã em que um gajo à tarde não pode sair à noite. Xiça! Vai lá, pá, eu já me encharquei todo a falar com o gajo.
Que remédio, o polícia maçarico lá teve de sair pró dilúvio. Abriu a mala e, ó raios, o macaco saltou e subiu pró alto do poste de iluminação!
E bem o tentaram chamar! Macaquinho, anda cá. Anda cá, macaquinho! Macaquinho, macaquinho… Hei! Hei!, ó macaquinho! Hei!, ó £@$§@, desce daí, porra!!!
Mas nada! Hihihih … hihihihi … e gozava, lá do alto do reino das vertigens…
– Vai ali à cervejaria e compra uns amendoins, eles gostam de amendoins… E gostava… E foram a sua perdição. Colocados na calçada, bem junto da base, foi num ápice que o animal desceu… E agarrado, enquanto olhava pró o pacote. Não conhecia aqueles, com a cara do Mantorras estampada na embalagem. (porque é que não deixam jogar o Mantorras?)
O símio seguro, o pneu trocado, o símio guardado, a mala fechada, os polícias sentados, as portas fechadas, lá foram de novo aos soluços, Avenida da Liberdade acima, Marquês, São Sebastião (esta coisa dos santos está a perseguir-me…), Praça de Espanha… E alcançaram o gajo em Sete-Rios. Prenderam-lhe os braços, tiraram-lhe o rádio, desligaram a onda e levaram-no para a esquadra de Santa Marta.
Não deviam. Antes tivessem optado pela de Carnide. Ao entrar, morreram todos afogados.
O chefe sofria de cataratas!